Mamãe em tempo integral

14 de Maio de 2014

Mamãe em tempo integral

Confesso que não gosto da expressão “mamãe em tempo integral”, e não é porque optei por continuar trabalhando após o nascimento da minha filha. Mas, em minha opinião, esta expressão coloca num ringue a quantidade e a qualidade de horas que cada mamãe passa com o seu filho.

Antes mesmo de engravidar da minha filha, planejava colocá-la num berçário para continuar trabalhando após a licença maternidade.  Mas, com o bebê nos braços, o sentimento mudou e passei a me questionar se esta seria a melhor opção a ser tomada. E mesmo optando por continuar trabalhando, ao longo desses 4 anos, venho observando a rotina de quase uma centena de mães e filhos para garantir que, até o momento, esta opção foi acertada.

Na realidade, apenas três mamães que conheço deixaram carreiras promissoras para cuidar dos seus filhos. A primeira o fez porque trabalhava em uma cidade e morava em outra, e teve problemas com a escola do seu primogênito. Assim, optou primeiramente em deixar o seu filho aos cuidados da vovó materna até que decidiu parar de trabalhar para cuidar dele. Em seguida, teve seu segundo bebê e está muito feliz com a opção tomada. A segunda teve uma gravidez de risco do seu primeiro filho, e tomou esta decisão ao descobrir a gravidez (não planejada) do seu segundo bebê. A terceira optou por deixar de trabalhar fora para realizar o sonho de ter dois bebês em um espaço curto de tempo, uma gravidez seguida de outra.

Todas as outras mamães que conheço que deixaram de trabalhar para cuidar dos seus rebentos é porque a opção de continuar trabalhando fora não compensava financeiramente. Ou seja, o gasto com uma escola particular ou com a contratação de uma babá, era maior do que o seu salário mensal.

Além disso, conversando com as mamães que passaram a ficar em casa para dedicar-se aos afazeres domésticos e aos cuidados dos seus filhos, percebi que elas também possuem poucas horas livres para ficar com eles. Os afazeres domésticos são tão corridos e cansativos quanto o trabalho fora, o que me faz concluir que o tempo de dedicação aos pequenos acaba por ser quase os mesmos.

Porém, vale ressaltar que faço esta afirmação em um cenário que considera que a mamãe que deixou de trabalhar fora para cuidar dos seus filhos, possa contar com, no máximo, uma diarista que a ajude em uma ou duas vezes por semana, sobrando para si muitos afazeres domésticos.

Outro ponto importante a ser considerado é que valorizo as brincadeiras infantis lúdicas e considero a atenção dos pais muito importante na criação dos filhos, o que exclui da comparação mamães que consideram que o tempo que passam perto dos filhos por si só é de qualidade, e acabam usando de artifícios que eu particularmente não gosto para terem para si mais tempo livre, como jogos de videogame e computador, por exemplo.

Também estão isentas da comparação as mamães com carga horária de trabalho excessiva, que se ausentam durante tanto tempo que não possuem duas ou três horas livres em companhia dos seus filhos. Além das mamães que não possuem outra fonte de renda que não seja o fruto do seu trabalho.

E afinal, por que não gosto da expressão “mamãe em tempo integral”?

Porque levando em consideração todas as observações acima, porque esta expressão é usada muitas vezes como resposta para uma pergunta preconceituosa relacionada à escolha da mamãe que optou por ser dona de casa, não significa que uma mamãe que trabalha fora também não seja “mamãe em tempo integral”. Ou as pessoas acham que a mamãe que trabalha fora possuem um botão ON/OFF na função “mamãe”?

E mais, associar que uma mamãe é uma “mamãe em tempo integral” porque ela optou por ficar em casa desempenhando tarefas domésticas, significa associar que uma criança não é um ser humano, mas sim mais uma tarefa doméstica. E num mundo machista, tarefas domésticas são destinadas às mamães.

Este é um assunto polêmico, e em minha opinião, assim como as mamães dividem receitas sem julgarem o paladar uma da outra, as mamães também deveriam apoiarem-se quanto à opção trabalhar fora ou não sem julgarem a opção uma das outras. Pois quanto menos julgamento, mais ausência de culpa. Quanto mais ausência de culpa, mais fácil será para nós, mamães de corpo, alma e tempo integrais, tomar e retomar a decisão de trabalhar fora ou não.

Abraços,

Mari.

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